A Atuação Internacional de Eduardo Bolsonaro nos EUA: Entre o Ativismo Ideológico e os Desafios à Política Externa Brasileira.
A presença e o engajamento de Eduardo Bolsonaro com figuras da extrema-direita norte-americana acendem alertas entre especialistas em ciência política e direito constitucional, gerando repercussões que transcendem o campo diplomático e impactam a estabilidade institucional do Brasil.
SÃO PAULO / WASHINGTON, AGOSTO DE 2025 —
A atuação política de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, em especial após o fim do mandato de Jair Bolsonaro, tem se consolidado como um objeto de atenção crescente por parte de cientistas políticos, juristas e diplomatas. Suas agendas com líderes da alt-right, seus discursos inflamados sobre fraudes eleitorais e sua defesa de regimes autoritários têm levantado questionamentos sérios sobre os efeitos de sua postura para a imagem internacional do Brasil e a relação entre os Poderes da República.
Entre a diplomacia paralela e o ativismo ideológico
Eduardo Bolsonaro tem participado de eventos internacionais que reúnem personalidades alinhadas com movimentos antiglobalistas e teorias conspiratórias sobre eleições. Essa atuação, segundo o cientista político Dr. Luiz Fernando Azevedo (FGV-SP), “extrapola a função representativa de um parlamentar brasileiro, ao operar como um agente informal de relações exteriores, sem chancela do Itamaraty e em desacordo com a política externa oficial”.
O parlamentar chegou a discursar ao lado de figuras como Steve Bannon e líderes republicanos que defenderam abertamente a tese de fraude nas eleições americanas. A mesma narrativa foi reproduzida por bolsonaristas durante o processo eleitoral de 2022 no Brasil.
Juristas apontam riscos à ordem constitucional
Segundo o jurista Dr. Sérgio Nogueira, professor titular da USP e ex-consultor do Supremo Tribunal Federal, "há um risco jurídico claro quando representantes do Legislativo defendem ou endossam publicamente teses golpistas ou buscam desacreditar o sistema democrático fora do território nacional".
Eduardo Bolsonaro chegou a sugerir, em entrevistas e redes sociais, que o Brasil necessitaria de “uma ruptura semelhante à do Capitólio”, em referência à invasão ao Congresso americano em 2021 — episódio classificado como “terrorismo doméstico” pelas autoridades dos EUA.
Essas declarações, à luz do artigo 1º da Constituição Federal, que trata dos fundamentos da soberania e do Estado Democrático de Direito, “podem configurar quebra de decoro parlamentar, instigação ao golpe ou até mesmo apologia a crimes contra o Estado de Direito”, afirma Nogueira.
Repercussões negativas para o governo brasileiro
Ainda que Eduardo não componha o Executivo, sua imagem está intrinsecamente ligada ao bolsonarismo, movimento que ainda possui forte base no Congresso Nacional. Suas ações no exterior, portanto, repercutem na percepção internacional sobre o Brasil.
Impactos:
• Danos à imagem diplomática: Ao se associar a líderes considerados antidemocráticos, Eduardo contribui para a leitura de que o Brasil abriga forças políticas hostis às instituições, o que afeta o grau de confiança em negociações com organismos multilaterais.
• Desconfiança de investidores: Segundo relatório da Eurasia Group, os episódios ligados ao radicalismo bolsonarista aumentam a percepção de risco político, o que pode afetar decisões de investimento externo direto.
• Ruído institucional: A conduta de Eduardo interfere nas prerrogativas do Executivo e do Ministério das Relações Exteriores, deslegitimando a diplomacia tradicional brasileira pautada na neutralidade, multilateralismo e não intervenção.
Pontos positivos e uso estratégico da influência
Entretanto, alguns analistas destacam que a atuação internacional de Eduardo Bolsonaro também pode ser lida como um instrumento de manutenção de capital político conservador internacional, útil para setores empresariais e religiosos brasileiros que compartilham dessa agenda.
Segundo o professor Marcelo Guimarães, da Universidade de Coimbra, “Eduardo desempenha o papel de conector entre o bolsonarismo doméstico e a direita global, mantendo o movimento vivo mesmo após a saída de Jair Bolsonaro da presidência”.
Essa atuação paralela, apesar de polêmica, sustenta a presença do Brasil em redes conservadoras internacionais que articulam ações midiáticas, jurídicas e políticas. Isso pode render capital simbólico e apoio eleitoral em futuras disputas internas.
A crise entre os Poderes e a questão da soberania nacional
No centro do debate, está a independência e a harmonia entre os Poderes da República — princípio basilar do sistema democrático brasileiro. Quando um parlamentar viaja ao exterior para deslegitimar decisões do STF, criticar ministros da Corte ou insinuar ruptura institucional, abre-se um precedente perigoso que fragiliza a autoridade do Estado brasileiro em foros internacionais.
Especialistas alertam que esse tipo de conduta mina o princípio da soberania nacional, uma vez que expõe conflitos internos em palcos externos, submetendo instituições nacionais à avaliação — e até interferência — de governos estrangeiros.
A atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos vai além do papel parlamentar. É um reflexo da polarização política brasileira que ecoa no cenário internacional, com desdobramentos imprevisíveis para o equilíbrio institucional.
Se, por um lado, sua presença em eventos conservadores mobiliza uma base ideológica e mantém a chama bolsonarista acesa no plano internacional, por outro, seus discursos contra instituições brasileiras comprometem a imagem da nação, tensionam as relações diplomáticas e colocam em xeque o princípio constitucional da separação dos Poderes.
A pergunta que fica é:
Até que ponto a liberdade de expressão parlamentar justifica o enfraquecimento simbólico da democracia brasileira no exterior?
📡 Reportagem ONTV24H BRASIL
🔎 Por: Redação Política Internacional, com apoio de especialistas em Direito Constitucional e Ciência Política
🗓️ Publicado em: 3 de agosto de 2025